Em cargos de liderança na construção civil e em indústria naval, Cecilia Cavazani e Nicole Mattar Haddad Terpins, co-CEO da Construtora Cavazani e CEO do Estaleiro Atlantico Sul S.A., respectivamente, abordam as mudanças que tem ocorrido quando o assunto é a posição feminina frente às empresas de setores onde a maioria das lideranças ainda é de homens.
As duas mostram que há uma evolução na equidade de gênero, falam sobre suas experiências e ressaltam que ainda é necessário incentivar a decisão das mulheres de buscarem a liderança corporativa.
“Quanto mais mulheres ocuparem cargos de liderança, c-level e em conselhos de administração mais outras mulheres saberão que seu lugar também é ali. A mulher na liderança é porta para outras diversidades”, afirma Cecilia Cavazani, co-CEO da Construtora Cavazani, que trabalha com empreendimentos econômicos, financiados pelo Programa Casa Verde e Amarela.
Para ela, a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho vai além de remuneração e de cargos ocupados. O sexo feminino precisa enfatizar mais suas competências. “É por isso que as mulheres buscam mais cursos, mais especializações. Porque elas precisam comprovar a competência a todo momento, enquanto aos homens essa competência já é presumida”, cita.
“Características como competência, ambição e racionalidade são atribuídas frequentemente ao sexo masculino. Enquanto para as mulheres as características são intuitivas, colaborativas e atenciosas. Assim, precisamos externar nossa busca por hard skills e, dessa forma, estudamos mais. Acredito que quando as nossas soft skills e hard skills se juntam temos uma sinergia potente, que produz uma liderança criativa, com propósito, entregando um resultado robusto no curto prazo e eficiência no médio e longo prazo”, complementa.
À frente de empresa da construção civil, um setor que ainda é predominantemente masculino, Cecilia ressalta que não encontrou obstáculos na carreira ligados ao preconceito de gênero, mas nota que a estrutura no mundo dos negócios presume a competência masculina. “Não foi um obstáculo, mas é um esforço constante para me provar. Sou sócia do Eduardo, meu marido e, entre nós, nunca houve essa tensão. Mas as pessoas em geral, não compreendem a parceria de iguais, assim minha parede sempre foi recheada de conquistas para, desta forma, materializar a minha busca por conhecimentos e profissionalismo”.
Nesta procura por aperfeiçoamento, conhecimento, Cecilia embarca no próximo dia 23 para Dinamarca para um curso na escola Kaospilot, mundialmente reconhecida para a preparação de lideranças criativas e com propósito, com foco em inovação.
“Na sequência viajo para Israel para um outro curso, esse na universidade de TelAviv, com foco em inovação também. As duas viagens são parte do programa ABP-W da Saint Paul Escola de Negócios, que prepara mulheres executivas para ocuparem cargos em Conselhos de Administração”.
Para ela, as empresas precisam criar ferramentas para a promoção da igualdade de gênero. “Programas de contratação dirigida para mulheres, promoções para cargos de liderança, incentivo a capacitação das habilidades cognitivas e comportamentais, mentoria, apoio à maternidade, dentre outras ações são ferramentas para a promoção da igualdade de gênero nas corporações”, completa.
A co- CEO também faz parte do Amazonita Clube, um núcleo estratégico que reúne mulheres C-level do mercado de construção. “Grupos com essa finalidade são de extrema importância, pois, permitem um networking e uma troca de experiências entre mulheres que passam por situações muito parecidas no dia-a-dia. Acredito que isso seja um dos degraus para a igualdade de gênero. Dentro do grupo discutimos sobre como apoiar mulheres que desejam avançar na carreira no mercado imobiliário e, para isso, estamos criando um programa de mentoria. As mulheres precisam ver outras mulheres ocuparem cargos e lugares antes destinados apenas aos homens, com isso criamos um senso de pertencimento.
Nicole Mattar Haddad Terpins iniciou sua carreira ao se formar em Direito e escolheu a área empresarial, em especial, societário e fusões e aquisições, com o foco no crescimento das empresas, contribuindo para geração de riqueza e cumprimento dos objetivos sociais.
Teve a ascensão ao cargo de CEO, de forma natural, e consequência do que a empresa precisava no momento em que assumiu. Segundo ela, não houve resistência, pelo contrário, teve muito apoio tanto de dentro como fora da organização.
Nicole reforça que não acredita na destinação de cargos para um “gênero”, mas sim para uma pessoa, em função do seu perfil, seja essa pessoa homem ou mulher. “Mas o fato é que o mercado está mais atento a perfis de liderança feminina, e “ser mulher” não é hoje mais visto como uma vulnerabilidade, mas como uma fortaleza. Ainda vejo um longo caminho a ser percorrido para alcançar o equilíbrio, mas creio que isso ocorrerá com o tempo, de forma mais natural, através da ascensão de cada vez mais mulheres e de uma geração mais consciente quanto a importância da diversidade”, afirma.
No entanto, para área em que atua, a mudança ainda é ínfima, segundo ela. “A participação das mulheres na indústria pesada ainda é bastante inferior. Vejo mudança, mas ainda inexpressiva”.
“Resiliência e foco no resultado é o meu conselho para as mulheres. Não importa o que os outros acham de você ou do que você está fazendo, importa que você esteja segura de que suas ações são adequadas ao resultado que busca. No final, o resultado fala mais alto que qualquer preconceito, que qualquer julgamento, que qualquer suposição”, finaliza.